Ser enganado é um dos prazeres da peça “A farsa do olho traído”

Espetáculo é um exercício da mentira nos tempos modernos e desperta sentimentos inusitados no público

Jefferson Ribeiro | 7º período de Jornalismo na Universidade Positivo 

Uma viagem para um universo criativo é oferecida por “A farsa do olho traído”, que aconteceu no Espaço Fantástico das Artes, em Curitiba. É uma mentira que acontece onde as mesmas são construídas. Com a sintonia entre o elenco e a plateia, a sensação que alternativa entre diversão e incômodo foi uma das principais experiências provocadas pelo espetáculo. 

Dirigida pelo dramaturgo Paulo Biscaia, que se autointitula sanguinário bucaneiro intergaláctico, a peça teatral apresenta a  inconfundível linguagem da companhia Vigor Mortis. A obra tem elementos da tragicomédia misturada com tensão, terror, paixões, assassinatos e muito sangue nas mãos de narcisistas manipuladores. Tudo com diversos sorrisos sarcásticos cheios de “boas” mentiras.

Biscaia havia desistido do teatro há algum tempo, focando apenas no cinema, quando a atriz, que faz parte do elenco, Michelle Rodrigues o convenceu a fazer uma peça. Desta forma, nasceu “A Farsa do olho traído”, que exibe um lado pessoal de maneira fictícia, características mais leves e um texto humorístico afiado.

A Trupe de Festim, formada pelos atores Thiago Cardoso, Yves Carrasco e Darlan Junior (o Fileh), contracena com Michelle Rodrigues, que é uma das responsáveis pelos efeitos especiais e ornamentos da peça. “Eu trabalho com o Biscaia desde de 2011. Estudei muito sobre o narcisismo, que é a linha principal da personagem que fica acumulando centralizações, e ela sempre vai almejando uma subida social”, conta Michelle.

Em um ateliê, horas antes do vernissage, momento que antecede uma inauguração de um evento artístico e cultural, o som de pássaros e luzes amarelas entram em conflitos sociais e morais enquanto focam vários quadros.

Pavel (Yves Carrasco) é um curador de arte questionador e inocentemente apaixonado por Roberta Salvatore (Michelle Rodrigues), com quem tem uma relação. Ela usa toda sua manipulação para persuadir e deixar entrelinhas, além de ter um caso com Raulino (Darlan Junior), um egocêntrico pintor, e às voltas com Igor (Thiago Cardoso) um assistente silencioso e curto nas respostas.

As trilhas e luzes se misturam em cada questionamento dos personagens, dando ritmo à peça que ganha força e toques selvagens, trazendo à tona o lado mais primitivo do ser humano:  o sangue e a ira. Um assassinato brutal desencadeia mais ambições e transforma a tragédia em lucro e fama. “O diretor escreveu piadas pontuais e me sugeriu temas mais cartunescos e assim fomos encontrando um lado, com sotaque francês sem exageros”, contou Darlan Júnior. 

“A farsa do olho traído”  é um convite para despir a ética e a moral de maneira selvagem, tendo em cada personagem um pouco de nós mesmos, e assim, talvez achar alguma verdade nas delícias dos prazeres da enganação e das mentiras.

Depois do espetáculo, o elenco fez o leilão de um dos quadros do cenário, que foi arrematado por Alex Rodrigues. “Eu não sabia do leilão, e quando começou de fato, eu quis a obra, é um fragmento do espetáculo, uma peça de teatro é muito efêmera, você absorve o que está acontecendo, fica na memória, mas não tem como você reter, então ter um fragmento é interessante.”

Gênero: Tragicomédia

Duração: 60 minutos

Classificação: 14+

Evento: Fringe

Datas: 30/03 e 31/03, 22h

Local: Espaço Fantástico das Artes, Trajano Reis, 41, São Francisco, Curitiba/PR

Ingressos: a partir de R$15

Texto editado por Luiz Felipe Caldarelli

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